Ela levantou-se brusca ao meu lado.
“Preciso ir”, disse.
Notei que, quando baixou a cabeça para guardar seu caderno na
bolsa, com um movimento rápido impediu que seus óculos despencassem da ponta do
nariz.
“Preciso ir”, repetiu, apressada.
“Mas o que aconteceu?”, perguntou a professora.
Ela se virou, e a ponte entre os aros dos óculos equilibrou-se
perigosamente. Antes que se explicasse, cravou o dedo para encaixá-los rente ao
rosto:
“Eu não sei direito, professora, mas tô com uma sensação
de que algo grave”, os óculos deslizavam pela oleosidade da pele, “aconteceu
em casa”, ela fez uma pausa, ajeitando-os com as duas mãos, impaciente.
“Preciso ir.”
“Mas com esses óculos?”, perguntei.
Ela se virou assustada, e vimos os óculos dispararem e quebrarem no chão. Mas ela apenas sorriu, deixando-os,
ao sair.