tag:blogger.com,1999:blog-19757952043522742842024-03-15T21:01:17.694-03:00o esporro e a florMeu nome é Thiago Dias, tenho 27 anos, estudei Letras na Universidade de São Paulo. Comecei o blog para postar os textos que escrevo. Espero que gostem.Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.comBlogger15125tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-27192518171509419832016-08-10T13:24:00.002-03:002016-08-10T13:32:09.242-03:00Breves exercícios de escrita durante aula da oficina de três dias com Mauricio Salles Vasconcelos<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
O ato de
sentar-me neste banco já me torna, antes que eu escreva, a despeito da sombra
da copa da árvore dançando sobre o papel. E não pense que descobrirá aqui outro
Grande Mistério do Ser. Ele existe, mas não é grande. Também tenho minhas
dúvidas quanto ao mistério. (Já o ser não existe.) Se olho por muito tempo esta
copa, por exemplo, as folhas tremendo entreluz e é isso. De que servem
metáforas se elas se esvaziam antes mesmo que eu escreva que sou isso que
escrevo, eu que de novo não tenho nada? Flexiono pessoas e não conjugo mais os
tempos. Fico como novo a cada olhar e já nem me estranho. E ainda assim
permaneço, palavra. Digo o que vejo; escuto o que mastigo. Às vezes, acabo
engolindo um pedaço inteiro, e me leio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
#<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Uma formiga
subindo a parede da sala em linhas curvas chamou-me a atenção, enquanto a
filósofa questiona a ânsia de significado humana. Entre as fendas e lascas da
camada de tinta ela desaparecia para logo voltar como se o caminho
jamais pudesse ter sido outro em sua memória de formiga, mas a filósofa não lhe
nega a escalada, tampouco o direito de ser. Mas por que, sendo um inseto do
coletivo, a formiga estava– onde foi parar? Perdi-a de vista. A parede segue branca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
#<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Apertei meus
olhos para enxergar melhor através do vidro. Era você; sentado no vagão, a
cabeça baixa, um livro aberto nas mãos. Quis lê-lo. De pé no vagão do outro
trem ao lado, devorei-o como se meu desejo tivesse a força de arrancá-lo da sua
leitura para que você erguesse a cabeça e me visse ali. O apito das portas soou, elas se fecharam, você calmamente virou uma página. E enquanto meu trem
deslizava partindo da plataforma, no assento à sua frente um bebê no colo da
mãe batia a palma das mãos contra o vidro da janela. Ele parecia olhar
divertido na minha direção. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
#<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Ai, sem
ar-condicionado não dá. Foda-se que não é verão. A gente mora na cidade. Você
já viu estação bem definida aqui? Cada dia é uma estação. Hoje mesmo no ônibus
eu quase morri. Fiquei espremido na ponta do pé o caminho todo todo pra chegar
até aqui. Era como se o próprio corpo das pessoas grudadas em mim me segurasse
pra eu não cair. O motorista freava e todo mundo ia em bloco pra frente, pra
trás, pra frente, pra trás. Eu podia sentir a respiração do homem na minha nuca
e o suor nas minhas costas grudando na barriga dele. Tenho certeza de que senti
alguma coisa me cutucando! E ainda por cima a bateria do meu celular tinha
acabado, não dava nem pra me distrair. Ou pedir o número dele, haha! Enfim, minha
comida apitou aqui, vou comer porque hoje só passei com dois salgados. Depois te respondo aquilo!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
#</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Não entendo esses rabiscos no alto dos prédios mas vê-los lá me faz lembrar que o céu e a periferia são os limites.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-22939835125928447822016-07-26T17:00:00.003-03:002016-07-28T16:15:49.619-03:00Lançamento do livro O cego e outros contos<div style="text-align: justify;">
<b>No dia 30.07, acontecerá o lançamento do meu primeiro livro de contos. Divulgo aqui o convite do evento, a quem se interessar, seguido do prefácio e trechos de contos que compõem o livro.</b></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq9okmIX_rCbFAMyDTKhEMFPSysyyNuwrpNtRJ4Hh_KZU0u9wmeJF0ZZVACn5Z58fxBC6VYtBObE5RHRI0sDuhmT1Ngz0rbVhfZYXaC50_FHHVmRFDIOOljtcQBeOxTFiZEpitKEm9r9E/s1600/Convite_O+cego+e+outros+contos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq9okmIX_rCbFAMyDTKhEMFPSysyyNuwrpNtRJ4Hh_KZU0u9wmeJF0ZZVACn5Z58fxBC6VYtBObE5RHRI0sDuhmT1Ngz0rbVhfZYXaC50_FHHVmRFDIOOljtcQBeOxTFiZEpitKEm9r9E/s640/Convite_O+cego+e+outros+contos.jpg" width="568" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cada vez mais,
contesta-se a legitimidade de uma sociedade prioritariamente calcada em um projeto
que é ocidental, branco, cristão e heterossexual. Novos modelos de
relacionamento, outras formas de convivência com o próprio corpo e com os
demais, o conhecimento e reconhecimento de alteridades diversas, que fogem ao
senso comum, são a tônica de um momento histórico cada vez mais globalizado e
interligado pelas redes sociais, disseminadoras de conteúdos que trafegam em
uma velocidade e com uma liberdade cada vez maior. Mas essas transformações
também provocam fissuras, indivíduos que, embora percebam cada vez mais as
mudanças e queiram inserir-se nelas, não conseguem, por ainda se encontrarem
presos a padrões antigos, preconceitos, medos e culpas. Os contos de Thiago
Dias aqui publicados permitem que nos debrucemos sobre esses sujeitos
problemáticos de forma tortuosa e violenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O autor não deixa dúvidas
quanto à temática de preferência: são histórias em que o homoerotismo dá o tom,
nas quais não há pudor em relatar as experiências sexuais, em deixar bem
visível o “pau duro” do personagem sob a calça, o tesão de um “inofensivo” velho
que apenas observa a beleza juvenil, o cu que abre e fecha de prazer. Mas
também são contos em que se conjuga, de modo às vezes cruel, a violência com
que esse prazer se manifesta nos indivíduos que o sentem e com os quais tem
contato: é o perigoso cacto espinhoso comparado a um pênis ereto, a camisinha
estourada com restos cristalizados de sêmen, a mancha de sangue no lençol após
o ato sexual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E é uma violência que se
manifesta justamente por conta de uma sensação de não pertencimento de um
indivíduo formatado pelos preconceitos vigentes que ditam o que seria o “padrão”
de nossa sociedade em relação aos novos grupos que se impõem em relação o <i>status quo, </i>em particular contra um
projeto de heteronormatividade que pauta o comportamento social e sexual
masculino. Isso fica bastante evidente em um conto como “Orlando”, em que o
narrador acompanha a transformação do amigo, quase como um voyeur que, ao mesmo
tempo, regozija-se e culpa-se com a violência sofrida por ele durante o
processo. O amigo apanha porque se veste e rebola como mulher, não faz jus as
calças que veste, como o narrador que, encarnando o tipo “gay enrustido”, sente
falta das “punhetas” que batia com o colega durante a adolescência e, já na
faculdade e fora do lar de seus pais, mantém uma relação homossexual às
escondidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Trata-se de um comportamento
heteronormativo similar ao do narrador de “Ménage à trois”, no qual se
evidencia a busca pelo prazer desconectado de qualquer tipo de afetividade com
indivíduos do mesmo sexo, desde que não se perca a condição de “macho alfa”,
que obviamente prefere a posição de ativo, vangloria-se do próprio pau e relata
ao amigo, de modo muitas vezes grotesco, entre uma cerveja e outra, as suas
experiências na cama. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A dor gerada por esses
encontros prazerosos e violentos, no entanto, também funcionam como momentos de
descoberta. É a sensação de <i>bliss</i>
que, para o narrador, aponta para a possibilidade de negação dos padrões
estabelecidos e, finalmente, a aceitação da sexualidade por parte do indivíduo.
O excesso de luz que faz o narrador do primeiro conto dessa coletânea imaginar
que ficaria cego ou as nesgas de luminosidade que o personagem de “O espinho”
tenta inutilmente agarrar, e que apontam para o borrão de sangue no lençol,
funcionam como elementos, quase religiosos, de reconhecimento e de aceitação,
como visões místicas que direcionam a uma possibilidade de libertação do
sujeito problemático.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas é em “Parada” que o
vislumbre dessa libertação parece mostrar-se mais próximo. Nessa narrativa, a
própria linguagem esforça-se em “sair do armário” e a escrita tenta
aproximar-se de uma semântica que insira o sujeito no grupo a que tanto ele
almeja pertencer. É o “<i>boy</i>” que dá a
Elza na “bicha burra”, que veio para a parada com a carteira cheia de dinheiro,
a <i>drag</i> que “ahaza” sobre o trio
elétrico, “a <i>gay</i>” que enlouquece com a
“neca mara” do bofe com quem transou em plena rua. Aqui, o autor coloca de lado
recursos narrativos tradicionais, mas condizentes com os perturbados meandros
psicológicos dos narradores anteriores, para mergulhar em uma sintaxe e um
léxico próprios, que favoreça o processo de identificação do indivíduo em
relação ao grupo. Como o movimento da própria parada, a perspectiva dá-nos a
sensação de que desfila junto à massa, recaindo sobre tipos, perscrutando seus
pensamentos, evidenciando a diferença. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nesse momento, Thiago
Dias mostra que linguagem e ideologia não podem atuar separadamente. É o
dêitico, o apontar na direção do outro, o modo de nos afastarmos ou nos
aproximarmos da alteridade ou de nós mesmos. A travesti ou transsexual é “ela”,
não “ele”. Ou também vestimos a luva do
outro, que nos cabe muito bem, ou nos tornamos um indivíduo em constante e
dolorosa luta interior, como o do conto “Um velho obsceno”, uma narrativa
extremamente cruel e incômoda, que já parece ter nascido como clássico instantâneo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 42.55pt;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Marcos
Lemos Ferreira dos Santos<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 42.55pt;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mestre
em Teoria Literária e Literatura Comparada (USP)</span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 42.55pt;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>O cego</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><i>As notas caíam lentas
como gotas de chuva sobre nossas cabeças, eu e o homem cego ao meu lado,
enquanto observávamos do lado de fora o pianista tocar no restaurante, sem nos
importarmos se ficaríamos molhados. De qualquer forma, era a sensação que eu
então estava sentindo, e me lembro bem de que, quando olhei para o céu e
percebi que ele era de um profundo azul no final daquela tarde, tive vontade de
me sentar na beira da calçada e chorar com ele ao meu lado.</i></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>“Fecha os olhos”, ele
disse de repente. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>E eu imediatamente
fechei. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>“Sabe quando você fecha
os olhos pra ouvir alguma música já conhecida e de repente você percebe vários
detalhes que até chega a pensar que não conhecia de verdade?”, ele perguntou,
mas eu agora estava atento à voz suave e poderosa que parecia vir de algum
lugar muito profundo e distante, que eu não podia alcançar. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>Continuamos caminhando
pela rua, a mesma rua por que eu passava todos os dias, com seus prédios,
letreiros brilhantes e coloridos piscando incansavelmente por toda a noite,
anúncios como “Amarração para o amor” nos postes, outdoors anunciando mais um
fenômeno para fazer os outros suspirarem como a mulher do metrô. E olhei para
ele, a pele morena dourada sob as luzes que lentamente se acendiam nos postes
da rua, sereno e alheio a tudo aquilo ao seu redor, atento apenas aos muitos –
infinitos, na verdade – tons e verdades por trás de todas as aparências. E
quando ele parou diante da entrada de um prédio, indicando que era ali que ele
morava, mal terminou de formular se eu não gostaria de– lembro que me enganchei
em um braço seu para que me levasse com ele, pois eu desejava que me visse.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><b><br /></b></span></div>
<div class="Default" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 15.3333px; line-height: 23px;"><b>Parada</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>Como dois
maestros em cima do trio que regia toda a parada, ela via a si mesma e o
GogoBoy ao seu lado, o néctar escorrendo do corpo dele, trazendo a promessa da
imortalidade para quem o provasse – Ganimedes raptado pelos deuses para o
Olimpo. Pois ela mesma era a própria deusa Afrodite, aqui, em cima do trio,
guardiã daqueles sob a bandeira que se estendia pela avenida, sedentos para
experimentar a carne do banquete (ela não viu quando a carteira passou rápida
por trás da sua cabeça). Ou talvez, imensa e colorida, os cabelos azuis
revoltos e a boca enorme, fosse como um dragão a soltar fogo. Pois assim
mítica, lendária, estava além de qualquer classificação de gênero ou espécie –
criatura do exagero e das cores. É tanto poder e exuberância que fascinam. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="Default" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>Balançou
os cabelos azuis ao som que vinha do carro, desfilando imponente. Ventava
forte; mas ela estava ali, não estava? Ainda que nem todos a observassem, apesar
de estar no centro, ela fazia a sua performance exatamente para isso, sentiu,
enquanto levantava os braços regendo a música que vinha do trio – embora não
estivesse tão certa quanto ao que isso era. Talvez tenha
gritado, agora, sua voz reverberando da caixa de som – pois era a sua voz
– e num rompante debruçou-se sobre as barras ao redor do carro, enquanto
percorria com o olhar à distância o arco-íris que parecia irradiar de si mesma
ondulando ao vento... E não viu – um homem alto, ele era bonito, olhava-a
sorrindo com um cigarro queimando pendendo do canto dos lábios – seus cabelos
alçarem voo...</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b>O espinho</b></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>Mas sabe aquela sensação
de que tem alguma coisa dentro de você, que todo mundo vê, sabe muito bem o que
é, mas só você não sabe? Na verdade, acho que ninguém via nada. Pelo menos, não
mais do que eu. Foi uma fase muito difícil... Era como olhar no espelho e
enxergar seus lábios se separando, a boca se abrindo sozinha, e você não
entendia, e se afastava assustado... Como se as palavras estivessem sempre na
iminência de se formar e, se eu falasse, seria tarde demais. Não haveria
retorno. E eu nem sabia que palavras eram essas! E até hoje não sei. Por isso,
acho que na verdade elas simplesmente não existem. O mais próximo que alguém
pode chegar perto delas é dizendo Eu sou, e só. Mas dizer isso, olhando o
próprio reflexo no espelho, pele, olhos e cabelo – é redundante demais. E a
gente acaba com ainda mais dúvidas. Acho que todo mundo vive passando por isso
na vida. Só falei de “armário”, “modelos”, porque, apesar de tudo, eu ainda sou
gay.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>Desculpa, você tinha me
perguntado como foi minha primeira vez, né? <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
</div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.5pt; line-height: 150%;"><i>Eu tinha resolvido sair
sozinho naquele dia. Foi algo bem impulsivo... Eu sempre saía com meus amigos,
odiava sair sozinho. Não me sentia bem, sei lá. Mas todos eles eram héteros, e
acho até que não sabiam que eu era gay, mesmo sempre me provocando com algumas
piadinhas. Eu era aquele cara, daquele comercial argentino de cerveja, acho,
sabe? E eu fingia levar tudo na brincadeira, mesmo já sentindo um pé no outro
lado, também. Bom, naquele dia eu resolvi dar o outro passo. Pôr finalmente
meus dois pés no lugar que era meu. </i></span></div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-58444236485740597442016-05-12T22:24:00.002-03:002016-05-13T01:06:45.849-03:00Óculos velhos<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">Ela levantou-se brusca ao meu lado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Preciso ir”, disse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Notei que, quando baixou a cabeça para guardar seu caderno na
bolsa, com um movimento rápido impediu que seus óculos despencassem da ponta do
nariz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Preciso ir”, repetiu, apressada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Mas o que aconteceu?”, perguntou a professora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ela se virou, e a ponte entre os aros dos óculos equilibrou-se
perigosamente. Antes que se explicasse, cravou o dedo para encaixá-los rente ao
rosto:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Eu não sei direito, professora, mas tô com uma sensação
de que algo grave”, os óculos deslizavam pela oleosidade da pele, “aconteceu
em casa”, ela fez uma pausa, ajeitando-os com as duas mãos, impaciente.
“Preciso ir.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Mas com esses óculos?”, perguntei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ela se virou assustada, e vimos os óculos dispararem e quebrarem no chão. Mas ela apenas sorriu, deixando-os,
ao sair.<o:p></o:p></span></div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-19099044142384390212014-02-11T03:51:00.004-02:002024-02-06T10:43:35.195-03:00(des)conforto<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
é esse calor, o ventilador constante no peito, costas, agora peito, costas de novo. é abrir os olhos. é levantar-se da cama com o desconforto de não saber mais como continuar dormindo. pois a verdade (como ouso?) era que até mesmo os sonhos compunham apenas um tecido que lentamente se desfiava... fios soltos da minha vela, sendo lançados ao mar de ressaca em que agora me encontro. há sol, mas a maré tá braba, depois da tempestade. o que, aliás, qualquer navegador menos indolente saberia ser previsível. e no entanto meu único conforto (além das metáforas, veja bem) é ter descoberto que ainda é possível chover. olha aí, tá na superfície das águas. por isso hoje deixo o navegante sentar-se no convés, à deriva, sem vela, e vigiar o céu com estes olhos, que tenho aqui agora, e que ontem mesmo choveram.</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-13185317044382688962013-11-15T19:55:00.002-02:002013-11-22T03:43:47.654-02:00<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É a ação da faca afiada, porém um pouco cega. É o tiro da arma que dispara de repente. É o sangue lavado da vítima. É a tinta da minha caneta agora. É a opressão do espaço vazio das páginas seguintes. E a ânsia e o desespero das palavras para ocupá-lo. É a falta de espaço. É o proibido. O ilegal. É a loucura, as narinas sangrando, os olhos abertos, as mãos inquietas e a alma errante. É o rascunho. E a preguiça com a necessidade de escrever.</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-51319988745267106192013-09-04T01:18:00.001-03:002013-09-04T01:18:45.976-03:00<div>
<br /></div>
<div>
ai</div>
<div>
saudade da porra, viu</div>
<div>
<br /></div>
<div>
dessa</div>
<div>
mesmo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
sua</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-57430244329556734602013-08-21T20:01:00.005-03:002013-09-14T13:37:32.867-03:00<div style="text-align: right;">
<i><br /></i>
<i>Para Bruna.</i></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Mas acho que o que eu mais quero", ela disse, "é que as pessoas sintam quando lerem meu mangá", e virou-se mais para si mesma do que para a quem dizia: "Eu sei que cada uma vai sentir algo diferente, mas, enfim", e suspirou, tirando um cigarro do maço. "Não sei explicar isso", acendeu-o, "mas deixa eu ver", tragou fundo e lentamente, olhando para a luz amarela do abajur que envolvia os dois ali, soltou a fumaça. "Sabe quando você lê alguma coisa, ou ouve alguma música, e você se sente abraçado por elas?" A fumaça do seu cigarro circulava entre eles, sob o círculo de luz. "Tipo quando eu leio Cecília Meireles, eu me sinto muito abraçada pelas palavras dela, e por ela. Eu sei que é meio estranho", e parou, observando a fumaça dissipar-se no ar. "Mas até mesmo quando escuto algumas músicas eu sinto essa sensação de abraço." E então, encostando-se nas almofadas, com o cigarro pendendo abandonado entre os dedos, fechou os olhos e viu a luz amarela fixada em suas retinas. "Agora, por exemplo, eu tô escutando uma que me faz sentir assim."</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-47924125772263432742013-07-01T14:59:00.002-03:002024-01-19T10:00:38.410-03:00Um dia<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste dia, quando acordou, encontrou a sua identidade bem diante de si. Tomou-a em comunhão e dançou, dançou, dançou com ela em seus braços, sozinho sob o teto ensolarado do seu quarto. Mas ao abrir a porta para sair, num assalto o vento de repente a descolou de sua pele como uma folha se desprende de uma árvore... Com um grito, correu atrás dela, tentando alcançá-la, prendê-la no espaço vazio que tinha sido deixado, embora não a enxergasse, não soubesse pra onde ela tinha ido. Perdido na névoa do seu fôlego e na chuva dos seus olhos, foi só ao parar que finalmente a reencontrou: o tempo todo ali, bem debaixo de seus pés, na poça de água, sorrindo mesmo enquanto chovia. </div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-10717448807260837142013-06-16T22:32:00.004-03:002013-07-01T21:26:24.637-03:00Vênus entrou em Câncer<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Vênus entrou em Câncer”, o seu amigo lhe diz. Agora tudo faz sentido, você pensa, deitando-se na cama após acender um incenso e pensando que mão poderia repousar sobre o seu peito, ofegante, o seu peito, dizendo-lhe: Calma, eu tô aqui, e você dorme – até acordar num sobressalto porque alguém bate na porta do seu quarto. Você levanta, olha o incenso ainda aceso, Mal dormi, pensa, e abre a porta: é ele. Você o deixa entrar, fecha a porta ofegante, ele põe a mão no seu peito e diz: Calma, eu tô aqui, sim, é exatamente o que ele diz, mas ao deitarem-se na cama e tirarem a roupa, você sabe que depois será deixado nu, enquanto ele se vai vestido. E se lembrará então de que Vênus entrou em Câncer e acordará sobressaltado do pesadelo, depois cansado e triste, enrolando-se na coberta e sentindo seus próprios braços em torno do corpo. Mas enquanto sonha, finalmente desperto, verá os planetas transitarem pelas órbitas do seu eixo: seus olhos, dois sóis. </div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-19035149440577835722013-05-30T21:45:00.000-03:002013-05-30T21:45:11.241-03:00<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nas alturas de nossa embriaguez, ele continuava dizendo que todo mundo é louco, e eu lhe dizia que sim, sim – todo mundo é louco. As pessoas são incompreensíveis, nada é como esperamos que seja. E enquanto observávamos, preocupados demais com a qualidade do metal que encontraríamos sob a terra, no final nos vimos no meio de uma terra que nós mesmos devastamos. A festa tinha acabado então. Pois se todo mundo é louco, eu lhe dizia na volta, com os bolsos vazios, isso nos torna mais loucos ainda.</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-36554836124342845212012-11-17T14:03:00.004-02:002013-02-10T04:29:05.183-02:00Things We Didn't See Coming<br />
<div style="text-align: right;">
<i>Para Nathália.</i></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
“Porque forma”, ela pensou enquanto sugava do beck na boca, tentando se lembrar do que queria dizer no bar.</div>
<div style="text-align: justify;">
“O quê?”, o estranho – tinha esquecido o nome dele – tinha perguntando então, mas agora suas mãos tiravam devagar o seu sutiã diante do espelho do seu quarto. E disse, alisando com o dedo todo o seu corpo com suas estrias e elevações e inesperados declives: “Você é linda, sabia?”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas ela apagou o beck rápido, empurrou-o sobre a cama e sentou-se em cima dele – porque forma, ela pensou – fazendo força sobre o seu corpo enquanto o volume crescia sob a cueca até ela–</div>
<br />
<div style="text-align: left;">
<i>(Ah, sim:</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>“Não tenho camisinha”, ele disse, sorrindo.</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i>“Tenho pílula do dia seguinte”, ela ofegou.)</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
–segurá-lo entre os dedos e encaixá-lo todo dentro de si. Ele envolvia os seios na palma das mãos – porque forma, ela pensou – enquanto ela subia-descia-batia-sobe-desce-bate-sobe-desce-bate-de-re-pen-te: ___________.</div>
<div style="text-align: justify;">
Porque forma, ela pensou, se desenroscando dos braços dele e indo até o banheiro sem fazer barulho, para não acordá-lo. Sentou-se na privada e pegou o livro que andava lendo – <i>Things We Didn’t See Coming</i> – enquanto o xixi escorria. Ao levantar-se, um papel que estava entre as páginas caiu no chão. Pegou, leu-o e riu: a porra dele rodava descarga abaixo junto com o xixi. Porque forma, ela pensou, é conteúdo sócio-histórico decantado.</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-20197911835386078342012-11-08T01:04:00.002-02:002012-11-08T01:05:42.886-02:00<div style="text-align: justify;">
Lembra-se quando éramos crianças e jogávamos bola no quintal de casa e a bola caía no quintal do vizinho? Era o fim se ela caísse, pois sabíamos que ele não devolveria. E costumávamos ficar sentados perto do muro do quintal até a noite chegar, imaginando a bola ainda lá, muito distante sob o sol que se punha no final da tarde, entre a grama mal cortada e sob a sombra de uma árvore, abandonada. Nunca mais a veríamos. E ainda que pedíssemos a mamãe pra pedir a ele que nos devolvesse, ela não ia, não ia. Sabia que ele não devolveria. Mas o maior problema hoje, eu vejo, era que toda vez que a bola lá caía ela nos surpreendia no dia seguinte com uma nova... Nos acostumamos com isso. E agora, que crescemos, a cada bola que jogamos no quintal do vizinho, sem querer ou não, não importa, esperamos no dia seguinte uma nova – mas ela não vem, não vem.</div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-83731193482035915372012-10-25T20:01:00.000-02:002012-12-01T14:40:47.554-02:00Pra variar: três poeminhas<b>Conta-gotas</b><br />
<br />
"Três gotas antes de dormir."<br />
Só.<br />
.<br />
. três?<br />
:<br />
:<br />
:<br />
:<br />
:<br />
:<br />
<br />
<br />
<b>Procrastinação</b><br />
<b><br /></b>
Queixo<br />
na mão,<br />
têmpora<br />
no indica-dor.<br />
<br />
Todo o peso do mundo<br />
oscilando<br />
sobre<br />
as<br />
pálpebras.<br />
<br />
"Bora tomar uma breja?"<br />
<br />
E chuto-o para o<br />
<br />
<br />
<br />
céu.<br />
<br />
<br />
<b>Ideologia</b><br />
<b><br /></b>
Ele _____ o nariz.<br />
(torceu?)<br />
(revirou?)<br />
(revolveu...?)<br />
<br />
He twitched his nose like a rabbit's.<br />
<br />
"Que cheiro é esse?", e então me perguntou.Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-42201859947617342222012-07-30T20:59:00.002-03:002012-08-02T02:44:54.150-03:00Coi(n)to interrompido<div>
<span style="text-align: justify;"> E então eu de repente percebi que quero escrever uma história de amor. Mas assim que essa ideia me assalta - e me deixa sem roupa em pele crua - e à espera de ser estuprado, talvez -, percebo que tem de ser um tipo muito específico de amor. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
Deixemos o pau entrar até o gozo, então. Dois corpos. E toda vez que ele metia ficava confuso quando escutava: mete, Matt, mete, Matt, mete. E se perdia tentando adivinhar a tal ponto que em plena ereção em pleno cu de seu amante que implorava (ou reclamava? Ai, não conseguia dizer com certeza, era difícil e sem querer via-se confuso e) brochava.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mete, vai, Matt, vai, matt, Mete, Matt, matt, mete... O que aconteceu? </div>
<div style="text-align: justify;">
Cara engraçado, esse Mateus.</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1975795204352274284.post-36812984867292841562012-07-10T03:01:00.002-03:002012-07-10T03:17:32.691-03:00Florzinhas e cactos<div>
<div style="text-align: justify;">
Eu fui a uma floricultura. Não. Eu fui comprar verduras e no caminho de volta eu passei em frente a uma floricultura e comprei flores. Se não passasse em frente não compraria. E se passasse também não. É que ninguém eleela poucos compram flores hoje em dia a não ser pra dar pra namorad–. No caminho de volta eu comprei e quem me visse na rua cheirando cheirando com força aquelas rosas que meu nariz de fumante não deixava sentir todo o cheiro, que desespero!, quem me visse me acharia um romântico andando pela rua com flores pra dar pra namorada(o?).</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Não, foi assim: eu passei em frente à floricultura e achei que devia florear a minha vida. Então entrei e senti aquele cheiro de flores misturadas e disse pra senhora florista que lá tinha um cheiro muito bom e ela disse com um muxoxo, ai nem sinto mais. É que nem hospital, quem trabalha lá nem sente o cheiro, ela disse, e eu disse, é.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"> - Queria comprar uma flor que não precisasse aguar muito, que durasse, sabe? Além de cactos, quais tem?</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Tem essas aí. (Ela disse apontando pra umas bonitinhas florzinhas rosavermelhoamarelas.) Elas duram um pouco mais. Assim.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Ah.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"> Olhei para os cactos. Um tinha um formato fálico que nem pinto duro. Nem quis. Gosto de pinto duro mas não tava na vibe, queria florear. Uns outros tinham um formato meio assim estranhos, formato de nada. Eram feios. Uns outros tipo assim vários cactos numa cestinha de barro mas deviam ser caros, eu pensei.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"> - É que cactos são feios, né?</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Ah. Eles não são feios. (Ela disse aguando umas bonitinhas florzinhas.) Eles são assim.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- É.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"> Saí da loja e não comprei nada. Mas uns cinco ou seis passos depois, sete, acho, eu ainda ouvia ela dizendo que eles eram assim. Voltei.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"> - Oi, vou querer um cacto.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"> Comprei um pequeno cacto e pra completar o troco comprei rosas e umas florzinhas amarelas e brancas. Cheguei em casa e pus todas em garrafas de vinho vazias com água. O cacto ficou no vasinho. Agora vejo as rosas e florzinhas amarelas e brancas e elas estão morrendo. O cacto ainda está lá, duro, rijo, e nem tem formato fálico que nem pinto duro.</span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/01247354130596224258noreply@blogger.com0